Nós, que vivemos na
Capital, não sentimos no dia a dia a tragédia que se abate sobre os sertanejos,
ou seja, estamos vivendo uma das mais dolorosas secas dos últimos tempos. Coincidência,
ou não? Há exatamente 100 anos acontecia a grande seca que assolou o sertão
cearense e todo o Nordeste, a seca de 1915, considerada, até então, a maior estiagem
já registrada na história do Brasil.
Na literatura brasileira, há várias obras que retratam cenários de
secas no Nordeste com histórias de sertanejos que emigram, isolados ou em
grupo, fugindo de secas. Entre eles, estão o clássico da literatura
regionalista “Vidas Secas” (1938),
de Graciliano Ramos, “Morte e Vida
Severina” (1955), de João Cabral de Melo Neto, e o notável romance social
brasileiro “O Quinze” (1930), de
Rachel de Queiroz.
Todo tempo é tempo de
ler Rachel, mas, aproveitando o
ensejo de março, mês da mulher, e da antiga, porém atual problemática da seca e
falta de água no Brasil, em específico, no Nordeste, sugerimos a leitura do
mais popular romance da escritora cearense, “O Quinze”. Primeiro romance de Rachel
de Queiroz, escrito em plena puberdade da autora, foi alvo de críticas dos
intelectuais e autoridades da época, visto que foi escrito por uma garota de
apenas 19 anos de idade, até porque abordava
a seca de 1915. A obra foi premiada pela Academia Brasileira de Letras
(ABL), inclusive, mais tarde, Rachel se tornou a primeira mulher a fazer parte
da ABL.
A história retrata os problemas da década de 30, dentre eles, as migrações internas de centenas de nordestinos fugitivos da seca de
1915, que se misturam com histórias de amor surgidas pelas estradas cansativas do sertão. A autora mostra o nordestino nos mais
ricos detalhes, fome, miséria e morte, relata ainda a situação de quem vive à
espera de um pouco de água e um prato de comida, à mercê da boa vontade daqueles
que detinham mais posse. E mais, Rachel
revela a sociedade patriarcal brasileira e seus impasses, sobretudo, a performance
feminina dentro de um espaço que enfrenta transformações modernizantes e
excludentes, por que o país passa. Podemos perceber isso ao observar as
personagens femininas que conduzem o leitor ao que há de mais instigante na
obra.
Dentre os principais personagens destacam-se: Dona Inácia, fazendeira,
mulher religiosa e determinada; Conceição, neta de D.Inácia, moça culta; Vicente,
moço simples, que gosta de Conceição; Chico Bento, homem simples e rude, filho
do sertão, tinha família grande.
O romance conduz o leitor a
querer mais. Mas afinal, diante dos cenários da seca de 1915, perpassando pela
de 2015, o que mudou? Como realmente estamos? Degustem essa leitura e façam
boas reflexões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário